quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pai

Contradições são muitas. Há quem diga que a vida é feita delas. E felizes são aqueles que transitam plenamente entre todas, sabendo-se um pouco de cada a cada instante, ou tudo ao mesmo tempo. Uma leve dor na fronte, proveniente de um cansaço físico e mental, que logo vai passar. Penso no meu pai, e hoje posso dizer com toda a certeza do mundo, que de todas as questões existenciais mais profundas, não há nada que me deixe mais triste e incapaz do que acompanhar o envelhecimento do meu pai. Tenho até pensado que as minhas poucas e curtas idas em sua casa são geradas a partir da minha incapacidade de lidar com as questões inerentes à velhice “do meu pai”. É a minha linha de fuga. Já não sou eu quem conta sobre a vida, os problemas, as paixões (....), é ele agora quem tem o lugar principal. Aqui os papéis se inverteram. Ao mesmo tempo, sinto-me feliz, pois o tenho e sei que ele tem a mim. Seu beijo hoje é muito mais gostoso, seu abraço é muito mais caloroso e acolhedor e suas manias, deixaram de ser irritantes e passaram a ser engraçadas ..... inclusive, quando ele quer se desfazer de tudo. Hoje mesmo, quase que saio de casa com milhares de volumes da Enciclopédia Barsa, que ele defende com tanto fervor que é um material fantástico para que eu estude alguma coisa pro mestrado. Quando vou embora, ele diz tão docemente ..... “que Deus lhe abençoe” ...... e manda com aquele tom de “pai” ...... “feche o vidro, filha”.

Nenhum comentário: